sábado, 4 de abril de 2009

Sonhos


Amanhecia… um amanhecer como tantos outros, mas será que todos os dias nascem da mesma forma? Será que nada muda o romper de uma nova manhã? Na verdade o que caracteriza o mudar, o transformar é a arte do sonho. Sonhar representa a busca intimista e secreta, aquilo de mais subjetivo que trazemos na alma… divagação, utopia… o caráter ilusório e fantástico do universo onírico.
A garota estava desperta… mas ainda envolta numa névoa de sonho, numa alucinada sensação de realidade, numa busca frenética por ser verdade não apenas imaginação, sonhos. Mas despertou completamente, as cores, as fantasias, as alucinações haviam deixado-a. E ela não sabia se ainda queria esses caracteres ou preferia encarar a realidade. Quantas vezes acreditamos que o mundo dos sonhos é tão mais seguro. Quantas vezes queremos nos isolar neste espaço entre o dormir e o acordar? Mas ela precisava realmente sair da cama e ir para o trabalho. Aquele dia ela tinha a certeza que seria todo ele permeado pelas lembranças do que sonhara. Loucura? Mistério? Fantasia? Imaginação? Um misto de tudo, uma vontade de tudo, uma busca de nada.
Na noite anterior havia passado horas em tão agradável companhia, tecendo frases, pensamentos desconexos, planos loucos que certamente tinha sido influenciada pelas palavras e a mente tão poderosa criou aquelas imagens… ao deitar, logo pegou no sono e viu-se envolta em um sentimento que a deixava completa. Uma paixão a dominara, uma sensação de que se sentia terrivelmente completa, afinal nunca estamos completos, sempre falta algo, o que se encontra em estágio de plenitude pode enfim deixar este lugar. Não há mais razão para se existir se estamos completos… imagens desconexas se apoderaram da mente da moça, os sonhos foram povoados por um mistério composto por jogos de palavras, imagens surreais, sensações e sentimentos psicodélicos. No meio de tudo isso só reconhecia a imagem da pessoa que andava povoando seus pensamentos, que andava dominando suas palavras e a própria voz se misturava à voz da outra pessoa, cenas de complementação, de desejo, de distanciamento e de envolvimento se passavam pela cabeça sonhadora.
Acordou no meio da noite, completamente molhada de suor e com a respiração acelerada, procurou ao lado: sozinha. Sonhos… apenas sonhos… virou para o lado e tentou se acalmar, fechou os olhos, e depois de um tempo pegou no sono novamente e no mesmo instante foi invadida pelas imagens mais uma vez. Agora a pessoa criava asas e vinha ao seu encontro murmurando palavras de amor, palavras que a moça entendia e queria retribuir, mas para que retribuir com palavras o que podemos retribuir com ações? E neste instante se entregaram ao desejo que une, que atrai, que converge. Amaram-se de forma louca, insensata, alucinada… uma cortina de cores envolvia os dois corpos. E estas cores se misturavam, chegando a invadir as duas pessoas que se amavam. Foi uma entrega total, um amor total, algo inimaginável, mas sentido como realidade, degustado… o sabor do beijo ainda estava na mente da garota, o aroma do perfume ainda a perseguia, ainda era capaz de sentir o toque, as mãos, a boca, a pele… os inúmeros pontos de luz que invadiram o quarto, mas não era o seu quarto. O lugar era muito parecido com um local no meio do nada, suspenso no ar, como se fosse uma chão sem chão, um tudo no meio de coisa nenhuma, talvez o vazio das almas se enchendo da presença de quem se ama.
Quando acordou, queria voltar a dormir, sentia claramente que se adormecesse outra vez, seria capaz de repetir a mesma cena, teria novamente a pessoa amada ao seu lado, vivendo as loucuras, as sensações, os desejos, compartilhando cada gesto, cada divagação.
Foi sem a mínima vontade para o trabalho e como já esperava sentia-se sobressaltada, várias vezes durante o dia, foi acometida pelos pensamentos e as lembranças dos sonhos… aquilo havia sido apenas sonho? Seria possível uma alma encontrar outra durante o descanso noturno, o desejo seria capaz de unir dois corpos distantes, por meio de sentimentos compartilhados? A garota no seu íntimo esperava que sim, queria acreditar que tudo aquilo que havia vivido tinha sido mais que real, pois o desejo havia sido, a entrega havia sido verdadeira…
Queria voltar para casa e entregar-se aos sonhos novamente… queria as sensações, as imagens…
Por: Edi Souza

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