terça-feira, 6 de julho de 2010

A força do olhar


As características das pessoas, entre elas elementos da personalidade, formas de encarar os fatos cotidianos, maneira de levar a vida, sua força, determinação, todos os aspectos podem ser denunciados por meio do próprio corpo. A forma mais evidente de transmissão destes elementos ou conhecimento das pessoas é por meio do olhar.

O senso comum revela que “os olhos são a janela da alma”. Isso não está errado, mesmo muitas vezes eles podendo levar a equívocos um observador não tão atento. Realmente eles nos revelam aos olhos de outras pessoas, mas cada um deve saber ler e interpretar os sinais. Há pessoas que falam mais com olhares que com as palavras. Uma comunicação sem som e cheia de significados.

Na literatura, encontramos várias menções ao olhar, principalmente em virtude desta capacidade intrínseca de transmitir a própria pessoa, de desnudar, de revelar… o olhar mais revela que esconde. Também há aqueles insondáveis, colocados como tão profundos como um mar revolto. Ou a menção machadiana, a mais conhecida sobre os olhos de Capitu, personagem feminina mais forte em nossa literatura e quem sabe na literatura universal, pensada e construída pelo gênio Machado de Assis, Capitulina do romance Dom Casmurro, é um ícone desta força e importância do olhar.

A personagem era dita no romance como “olhos de ressaca”. Há muito tempo, quando li pela primeira vez este romance, ainda estava longe de ser professora de literatura estava mais próxima das exatas, tinha na época provavelmente 11 anos, neste período ao ler Dom Casmurro, fiquei pensando o que seriam estes olhos de ressaca… para mim, na época ressaca tinha relação com excesso de bebidas e não consegui entender o motivo desta comparação.

Os anos passaram, fiquei mais inteligente à luz de boas e inesquecíveis leituras e em busca de um entendimento do mundo e de mim mesma. Já mais madura e lendo pela segunda vez e com mais atenção a obra machadiana, hoje já devo ter lido umas cinco vezes, cheguei à compreensão, estava lá, muito bem descrito, pronto para ser entendido, degustado como todo livro excelente e bem escrito.

O mar que sempre me fascinou, desde a infância, tinha servido de norteamento ao escritor realista. Era aquela ressaca. O mar revolto. Uma metáfora perfeita para explicar a força que emanava do olhar de Capitu e o poder de atração que ela exercia sobre Bentinho. Ele se sentia tragado pelo olhar assim como uma ressaca deve tragar tudo que encontra pelo caminho.

Olhos profundos, atraentes, fortes e intensos, muitas vezes indecifráveis, assim como o mar… os verdadeiros olhos de ressaca.

A literatura explica tudo, sempre há respostas e o mais importante: mais perguntas!

Por: Edi Souza

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