domingo, 18 de outubro de 2009

"As pequenas coisas da vida"


“As coisas mais insignificantes têm às vezes maior importância e é geralmente por elas que a gente se perde.” Crime e Castigo

Como desvencilharmos das pequenas coisas? Acaso não são elas que povoam nosso mundo, que recheiam nosso imaginário? Para tecermos nossos sonhos, nossas aspirações, tudo depende das pequenas coisas, daquelas aparentemente mais insignificantes e, no entanto, são elas as quais relegamos muitas vezes ao esquecimento que vêm sorrateiras e nos entregar, a nos contagiar e nos remeter ao nosso próprio universo.

Não se pode construir um muro sem pedaços de blocos pequenos, sem os tijolos… não se pode fazer um desenho sem que se coloque traços sobre o papel, não se pode arquitetar grandes clássicos da literatura sem que se teça períodos, compostos por orações constituídas por palavras, estas por sílabas e finalmente por letras, os signos menores de um contexto superior que é a elucidação de nossos sentimentos, dos nossos pensamentos, das nossas angústias.

As palavras são pedaços de alma, de sentimento, uma forma de nos mostrarmos. Um mundo misterioso capaz de servir de espelhos para nós mesmos, pois nos refletem tal qual nós somos. Assim, podemos verificar a importância das pequenas coisas, aquelas capazes verdadeiramente de transformar as nossas vidas, não há grandes coisas sem as pequenas.

Em Crime e Castigo, clássico da literatura universal, Fiodor Dostoiévski, literato russo, traz à tona muitos mistérios da introspecção humana. Em um ambiente assolado pela miséria, pobreza, falta de perspectivas e desolação humana, personagens se debatem com sua própria pobreza interna. A degradação advinda da culpa. Neste contexto, tem-se a prerrogativa que somos nosso próprio juiz, nossa mente nos julga e nos torna os condenados. Respondemos pelos crimes. Nós sabemos o que nos fere e fere aos outros e a culpa, o remorso, impele cada ser humano a recorrer a um abismo de tristezas e mágoas. Até chegar ao limite do que se pode suportar.

Além disso, o livro é um retrato de tiranias, desníveis sociais, dominação por meio de instituições, faz alusão a problemas sérios de ordem social e econômica. O submundo é apresentado, se constituindo no nosso próprio mundo.

Mais uma vez, um exemplo de que a literatura é o desvendar de nós mesmos. Podemos nos conhecer por meio das páginas dos livros. São mundos, são exemplos, são formas de mostrar a realidade, de reconstruir, de elucidar os pensamentos e nos trazer as informações mais necessárias para conhecer a si mesmo e aos outros.

Literatura é vida, é conhecimento, é doação, entrega… é um mundo crível e incrível ao mesmo tempo, conjugando o real e irreal, um mundo paradoxal e inigualável.

Por: Edi Souza

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