No retrato que me faço
- traço a traço –
Às vezes me pinto nuvem,
Às vezes me pinto árvore…
Esta é a primeira estrofe do poema “Autorretrato”, o qual pertence ao grande poeta nascido em Alegrete, Rio Grande do Sul, Mário Quintana. É incrível a capacidade deste autor em se retratar, por meio de palavras. É incrível a capacidade de se mostrar, de estar presente nos seus versos, de se colocar por inteiro e de nos revelar a nós mesmos. Lendo Quintana, assoma-se a ideia de que todos os seres humanos são iguais, padecem das mesmas dores, das mesmas angústias, dos mesmos ais… têm as mesmas necessidades de se reconhecer, se analisar, se entender, se buscar e se encontrar…
Esta estrofe, para mim, tem um significado lindo, pois alude a duas faces de cada ser humano: a capacidade de sonhar e de ser retirado deste sonho. Ou seja, quando somos nuvem, nos permitimos, somos sonhadores, buscamos nossos ideais, fantasiamos… quem sabe somos verdadeiramente felizes… mas inadvertidamente somos retirados destes pensamentos, somos chamados à realidade, nos transformamos em árvores, enraizados nos fatores de nossa vida cotidiana, chamados a deixarmos as estrelas, o céu e pensarmos na razão. Demonstrar nossos sonhos, nossa sensibilidade é entendido como fraqueza ou falta de firmeza e determinação.
Infelizmente abandonamos, dia após dia, nossa capacidade de transfigurar a realidade, de recriarmos, de sonharmos e buscarmos a felicidade, esta se tornou uma realidade distante, mas ainda ontem, no sonho, ela estava a um passo, a um estender de mão, ao toque de nossos dedos… prefiro as nuvens. O que importa o que as pessoas vão pensar ou falar? Elas sempre falarão. O que importa se queremos viver e ser feliz de verdade? Por que não nos deixam? Por que nos impedem? Por que permitimos que impeçam? Por que há tenta convenção? Por que há tantos por quês?
Há porquês simplesmente por haver dúvidas, vontades secretas, desejos ocultos… há sombra do que fomos, do que projetamos secretamente para a nossa vida, pois todas as pessoas têm apenas um projeto em comum: ser feliz.
Quem sabe um dia nos dispamos destes aparatos que atrapalham nossa busca por nós mesmos e conquistemos enfim a tão sonhada felicidade… para isso, sejamos nuvem.
Por: Edi Souza
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