quinta-feira, 22 de abril de 2010

Pátria minha tão pobrinha


Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...

Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...

Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!

Estes versos pertencem ao poema “Navio Negreiro” do poeta baiano, pertencente à terceira geração romântica, Antônio de Castro Alves. É importante ressaltar que esta fase da poesia romântica foi voltada para a luta por liberdade. Os românticos da terceira geração, ou geração condoreira, hugoana ou poesia social, estavam com o pensamento e olhares fixos em buscar uma melhor condição social para todo um povo, toda uma nação. Os principais combates se travaram em favor da abolição da escravatura e a instalação da República. Mas em outro momento falarei sobre esta importante fase da literatura brasileira. Agora quero citar esta importante passagem da poesia acima e lembrar que neste dia 22 comemoramos a data do descobrimento do Brasil. Com isso, me veio à mente os inúmeros fatos que se sucedem dia após dia em nossa nação.

A cada sucessão de desmandos, de absurdos, de corrupção, de descasos com a comunidade, com a população, com os roubos, as loucuras, as impunidades, a morosidade da justiça… a cada critério deste me vem à mente uma proposição do poema acima. A primeira estrofe do trecho citado…

Infelizmente, nossa bandeira, nosso auriverde pendão, encobre as inúmeras facetas de um país dominado por poucos, os quais fazem com que se abatam sobre grande parte da população a pobreza, a miséria, a falta de condições dignas de sobrevivência. Nossa bandeira encobre os milhares de desassistidos, os que têm fome, os que não podem estudar por faltar vagas em escolas, os que em virtude da fome deixam os bancos escolares e partem para o trabalho, os que mendigam, os que não têm nada…

Nossa tão linda bandeira que encobre a falta de vergonha de tantos políticos e grileiros que acendem a esperança num povo sofrido, sem alento, sem norte e deixam que construam suas casas em morros para com as águas da chuva tudo que foi edificado seja levado para sempre…

Este não é o meu Brasil… esta não é a pátria minha… minha pátria é acima de tudo isso, onde está a minha pátria, onde estão os brasileiros?

Precisamos de um novo Brasil, precisamos redescobrir o Brasil, o Brasil de todos os brasileiros, com esperança, com brilho, com verdades…

Por: Edi Souza

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