Mais uma vez eu afirmo que podemos perfeitamente e tranquilamente estudar os aspectos fundamentais que norteiam ou formam uma nação por meio das páginas literárias. A literatura é o retrato da realidade, é a busca por desvendar, explorar o real, reinventá-lo. Por meio dos livros, dos períodos, dos autores, podemos entender todo um contexto de uma época, analisar a cultura, os hábitos, os costumes e, inclusive, entender a história do país.
É fácil repensar os critérios e nuances referentes à Inconfidência Mineira, esse importante passo dado para a conquista da liberdade, da independência, por meio da análise da obra “O Romanceiro da Inconfidência”, da grande poetisa Cecília Meireles. Para muitos esta se constitui na principal obra da autora e ao se dar a leitura podemos perceber elementos líricos e épicos dentro de uma narrativa em versos. Além disso, a tradição popular, as diferentes formas de exploração a que os brasileiros eram submetidos, principalmente com a cobrança de impostos altíssimos. Neste cenário, dominado pela opressão, surgiu um grupo, dominado pelos ideais iluministas franceses para conclamar a busca pela liberdade.
Podemos acompanhar as reuniões às escondidas, parece até mesmo que podemos ouvir o trotar de cavalos e sentir as velas e lampiões ardendo a iluminar as ideias que fervilhavam entre alferes, políticos, intelectuais, entre os quais os grandes literatos Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manuel da Costa. Torna-se evidente até mesmo a conspiração contra o grupo e a subsequente traição de um membro da equipe.
É importante frisar, que Cecília Meireles confere aos envolvidos na “conspiração” um caráter mais humanizado, deixando claro que todos foram condenados, mas apenas um morreu na forca: Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.
Acompanhe trechos da obra:
Quando ela fala sobre a traição:
Ai, que o traiçoeiro invejoso junta às ambições a astúcia. Vede a pena como enrola arabescos de volúpia, entre as palavras sinistras desta carta de denúncia!
Da morte de Cláudio Manuel da Costa:
Já lhe vão tirando a vida. Já tem a vida tirada. Agora é puro silêncio, repartido aos quatro ventos, já sem lembrança de nada.
E da confecção da bandeira:
Atrás de portas fechadas, à luz de velas acesas, uns sugerem, uns recusam, uns ouvem, uns aconselham. Se a derrama for lançada, há levante, com certeza. Corre-se por essas ruas? Corta-se alguma cabeça? Do cimo de alguma escada, profere-se alguma arenga? Que bandeira se desdobra? Com que figura ou legenda? Coisas da Maçonaria, do Paganismo ou da Igreja? A Santíssima Trindade? Um gênio a quebrar algemas? Atrás de portas fechadas, à luz de velas acesas, entre sigilo e espionagem, acontece a Inconfidência. E diz o Vigário ao Poeta: “Escreva-me aquela letra do versinho de Virgílio...” E dá-lhe o papel e a pena. E diz o Poeta ao Vigário, com dramática prudência: “Tenha meus dedos cortados antes que tal verso escrevam...” LIBERDADE, AINDA QUE TARDE, ouve-se em redor da mesa. E a bandeira já está viva, e sobe, na noite imensa. E os seus tristes inventores já são réus — pois se atreveram a falar em Liberdade (que ninguém sabe o que seja). Através de grossas portas, sentem-se luzes acesas, — e há indagações minuciosas dentro das casas fronteiras. “Que estão fazendo, tão tarde? Que escrevem, conversam, pensam? Mostram livros proibidos? Lêem notícias nas gazetas? Terão recebido cartas de potências estrangeiras?” (Antiguidades de Nîmes em Vila Rica suspensas!
Por: Edi Souza
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