sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Libertas Quae Sera Tamen


“Ditadores enfraquecem o povo e produzem insatisfação. Depois os ditadores esmagam primeiro a imprensa, para impedir a cobertura de sua repressão, e depois o judiciário, para impedir justiça para suas vítimas. Os próprios elementos constituintes da democracia – partidos políticos, meios de comunicação e judiciário – são as vítimas do autoritarismo. Assim, a ditadura alimenta a instabilidade criando uma ilusão de ordem para disfarçar a grande desordem sob a superfície…” (BUTTHO, BENAZIR. Reconciliação – Islamismo. Democracia e o Ocidente. P. 166).

A ditadura é o cerceamento da liberdade dos seres humanos, uma forma de calar a boca das pessoas que veem dia após dia seus direitos serem vilipendiados. A imprensa se constitui na principal forma de conhecermos os fatores que movem o mundo, daí a importância dos meios de comunicação na formação do pensamento crítico, no fornecimento de subsídios para formar a massa pensante.

Historicamente, em nosso país, pode-se observar que muitas vezes a imprensa foi calada para que o povo não conhecesse a forma vil e desumana empregada na condução do país, nos anos em que a nação foi comandada por ditadores, sofrendo sob o regime ditatorial e militar. Neste período, a imprensa era constantemente calada, assim como jovens militantes, os quais tinham calado o grito de insatisfação por meio da imposição e da força bruta. Assim como diz o grande Chico Buarque numa de suas canções, quase um hino em favor da liberdade de expressão:

“Como é difícil acordar calado, se na calada da noite eu me dano. Quero lançar um grito desumano que é uma maneira de ser escutado. Esse silêncio todo me atordoa…”

É notório que a imprensa, assim como todos os setores, possui dois lados. É um elemento capaz de mover a povo para um lado ou para o outro. Mas calar a imprensa é como calar a voz do povo, mostrar que o que verdadeiramente impera é a lei do silêncio.

O fomento de uma democracia plena é ter uma imprensa atuante e livre, voltada para manifestar acontecimentos de um país. E a partir daí, evidenciar o surgimento de um povo que pode compor seus pensamentos acerca dos acontecimentos no meio em que está inserido e expressar sua forma de pensar sem que sofra represálias sob qualquer aspecto.

Sob os calcanhares de regimes ditatoriais se ocultam farsas, medos, intrigas e formas brutas de mascarar a realidade. O regime democrático possibilita a todos conhecerem os bastidores. Se hoje temos acesso a tantas informações, a tantos absurdos cometidos em nome do poder é em virtude de vivermos em uma nação democrática. Por mais que muitas ações contra os direitos ocorram, ainda temos para onde recorrer em busca da nossa liberdade, em busca de manifestar os nossos direitos, em busca de fomentar os pensamentos críticos. Somos produto de uma democracia advinda de muitas lutas recentes. Isto é, a liberdade que temos hoje, foi conquistada pela luta de inúmeras pessoas de diferentes setores: imprensa, artistas, literatos, estudantes, políticos… opositores, contestadores. Apenas por estas pessoas hoje podemos pensar e manifestar nossos pensamentos.

Mas será que a luta ficou no passado? Hoje, apesar da liberdade que temos, ainda podemos vislumbrar muitas ditaduras veladas, mesmo no Brasil. Sempre temos motivos para lutar, para não baixarmos a cabeça, para fazermos valer nossos direitos, fazer gritar nossa voz em defesa daquilo que acreditamos.

Por: Edi Souza

Um comentário:

  1. Muito boa a condução do seu pensamento no que diz respeito a pressão do poder em relação a liberdade de expressão. Confesso, porém, que esta situação torna-se mais difícil de suportar quando isso ocorre nas pequenas cidades, onde o poder, muitas vezes, é exercido até mesmo por pequenos segmentos do próprio poder, o baixo clero. Quem sente isso na pele, diariamente, entenderá bem o que tento passar. O baixo clero, muitas vezes, defendendo interesses dos poderosos, se vale de pessoas próximas (muitas vezes, necessitadas ou sem caráter) para tentar calar não só a imprensa como a vida daqueles que querem sobreviver da imprensa independente. Cara Edileusa, permite-me usar este seu texto num dos meus editorais na íntegra???????????

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