quinta-feira, 15 de abril de 2010

As favelas (parte I)


A literatura possibilita uma viagem por meio de aspectos pautados na realidade, pois a própria realidade e os fatos que a constituem são os elementos básicos de grande parte da criação literária. Não se pode criar sem ter lapsos da vida cotidiana, sem ter o vislumbre de um fato, um acontecimento, uma centelha de iluminação diante do que se descortina à frente do criador, do literato. Em virtude disso, grande parte dos movimentos literários costuma defender uma causa, levantar uma bandeira, denunciar uma realidade ou criticar os aspectos intrínsecos a ela. Assim, podemos conhecer diferentes formas de pensar, diferentes contestações, podemos ter contato com novos conhecimentos históricos, culturais e sociais apenas ao entrarmos em contato com um livro. Isso pode ser confirmado por meio do livro “O Cortiço” de Aluísio Azevedo.

O autor pertencente ao Naturalismo, movimento inteiramente voltado e embasado no Positivismo de Augusto Comte, que só aceita as verdades passíveis de serem comprovadas cientificamente, mostra por meio de suas páginas uma realidade diferente de tudo que havia sido produzido até então. Falamos do ano de 1890, data da publicação do livro. Neste ínterim, o Brasil vivia novos momentos: a industrialização e a necessidade de mão-de-obra, a imigração, principalmente de europeus e outro aspecto fundamental, os negros recém-libertos que se viam sem grandes oportunidades e precisavam de uma forma de sobrevivência. Neste contexto, verifica-se que havia um cenário propício para a exploração da mão-de-obra. O que se ofereceu primeiramente a esses trabalhadores foi o subemprego.

Assim, os trabalhadores se colocaram à disposição dos burgueses. E este proletariado passou a ocupar o espaço até então tão elitizado da literatura, pois em “O Cortiço”, o autor fala desta luta de classes apregoada por Marx e tão sentida na pele pelos negros e imigrantes nesta época.

É importante ressaltar que nesta obra evidencia-se o nascer das favelas. Isso se dá em virtude do subemprego e baixa remuneração do proletariado. A classe menos favorecida não tinha condições de morar nos ambientes mais sofisticados, portanto, teve que apelar para o jeitinho brasileiro… assim viveu à margem, se estabeleceu nas regiões periféricas dos grandes centros urbanos, dando início a um amontoado de casas, moradias com condições subumanas de sobrevivência. Surgiam as favelas. Deve-se ressaltar que não foi opção destes trabalhadores edificarem em encostas ou locais inapropriados, trata-se da única alternativa para ter um teto.

Por: Edi Souza

2 comentários:

  1. Edi, me veio uma pergunta depois que li seu texto: por que, hoje, a classe "alta" está "edificando" nossos morros?

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  2. qual seria a resposta? vc não sabe? é claro como uma água límpida.

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