domingo, 27 de março de 2011

Poesia: mensagens da alma para a própria alma

O grande Poetinha, Vinícius de Moraes

É incrível a capacidade que a literatura tem de elevar o espírito humano. Assim como Marisa Monte afirmou em determinado momento de sua vida que a música é um meio de transporte, o qual tem a capacidade de nos levar em poucos segundos a distâncias inimagináveis, eu ratifico o pensamento da grande diva da música brasileira e amplio esta visão: para mim as artes, as manifestações artísticas têm esta capacidade intrínseca, por si só são capazes de nos levar pela distância, nos unir a quem faz nosso coração arder, nos levar a fatos longínquos…
E a literatura tem esta capacidade ainda mais inteira, mais forte, mais determinante: a poesia, principalmente, nos faz sonhar, nos leva onde pensamos estar, nos faz ir onde se encontra nossa própria alma.
Hoje, posto um poema do grande Vinícius de Moraes. É um texto sublime, um deleite.

Na esperança de teus olhos

Eu ouvi no meu silêncio o prenúncio de teus passos 
Penetrando lentamente as solidões da minha espera 
E tu eras, Coisa Linda, me chegando dos espaços 
Como a vinda impressentida de uma nova primavera. 

Vinhas cheia de alegria, coroada de guirlandas 
Com sorrisos onde havia burburinhos de água clara 
Cada gesto que fazias semeava uma esperança 
E existiam mil estrelas nos olhares que me davas. 

Ai de mim, eu pus-me a amar-te, pus-me a amar-te mais ainda 
Porque a vida no meu peito se fizera num deserto 
E tu apenas me sorrias, me sorrias, Coisa Linda 
Como a fonte inacessível que de súbito está perto.

Pelas rútilas ameias do teu riso entreaberto 
Fui subindo, fui subindo no desejo de teus olhos 
E o que vi era tão lindo, tão alegre, tão desperto 
Que do alburno do meu tronco despontaram folhas novas. 

Eu te juro, Coisa Linda: vi nascer a madrugada 
Entre os bordos delicados de tuas pálpebras meninas 
E perdi-me em plena noite, luminosa e espiralada 
Ao cair no negro vórtice letal de tuas retinas. 

E é por isso que eu te peço: resta um pouco em minha vida 
Que meus deuses estão mortos, minhas musas estão findas 
E de ti eu só quisera fosses minha primavera 
E só espero, Coisa Linda, dar-te muitas coisas lindas...

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