quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Mulambo: o manifesto


Um mulambo é sempre um mulambo. Sabem aquela roupa que a gente usa até que ela começa a se desintegrar no corpo? Normalmente, trata-se de peças pelas quais o proprietário nutre um sentimento especial e os olhos enchem de lágrimas com a hipótese de ter que se desfazer do vestuário.

No meu guarda-roupa, existem alguns exemplares destes artigos de “luxo”, sem fazer trocadilho para “lixo”. Mas vocês já repararam o quanto aquele velho pijama, cheio de furos, descosturado sob os braços, deixando à mostra a axila, parece nos cair tão bem? Já repararam o quanto nos sentimos confortáveis na vestimenta?

Um mulambo é sempre um mulambo, mas não existe um mulambo igual ao outro. Há uma relação entre o usuário e a peça antiga, como uma relação de amor, onde o ódio, a repugnância não se enquadram… apenas em quem observa e, normalmente, estas pessoas costumam colocar defeitos na roupa, o que deixa o mulambento cheio de dedos e sentimentos estranhos: “como está falando assim da minha roupa?”, “você não tem ideia o quanto é confortável este meu mulambo”, “eu gosto desta roupa”…

O fato é que há uma perversa perseguição ao mulambo alheio, mas eu resistirei, meu mulambo ficará para sempre no meu armário e na minha memória, afinal gosto muito dele… e nada mais correto que unir coisas agradáveis e úteis: o mulambo e o conforto.

Ele não sumirá da face da terra, não será enviado para os lixões tórridos e feios, com seus números incontáveis de urubus, ele não padecerá na solidão inefável e mal-cheirosa das montanhas de lixos e do abandono do que não se quer, pois eu te quero, meu mulambo, e não te abandonarei, mesmo quando tiver um mulambo novo.

Não importa que não tenha mais elástico e fique com o cofrinho à mostra, não importa se a pessoa amada não acha sedutor e romântico… afinal, amar é aceitar o mulambo do outro. O importante são as histórias infindas que uma simples peça de roupa pode trazer à vida das pessoas.

Mulambo para sempre!!!

Por: Edi Souza

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